Às 6h30 começa o caminho. Depois de estradas sinuosas pela montanha, o nosso carro fica e um todo-o-terreno carrega-nos até ao grande descampado de eucaliptos onde hoje se vai cortar. A dimensão da maquinaria envolvida impressiona: máquina em equilíbrio, usando a força de muitos cavalos para carregar, segmentar e descascar.
Esta é uma zona de risco. Uma pequena distração e pode ser a morte do artista. Porque é também uma arte a forma como se lida com estes seres vivos que se irão perpetuar no formato de uma folha de papel. E se os trabalhadores sabem para onde vai cair o tronco, nós não, fazendo-nos aprender que a distância é importante. E vem-nos à memória a origem da palavra teatro: “o sítio de onde se vê”.
Homens e máquinas têm as suas histórias. E na conversa da bucha, enquanto os corpos descansam, recordam-se outros perigos vividos em dias de São João, quando o fogo a todos meteu medo. Dias idos… e que, bem longe, lá fiquem.
Neste negócio também outro tipo de árvores são reconstruídas. Os ramos de famílias que Pedro Lombinha se esforça por encontrar, por vezes bem longe destas montanhas. Pessoas que perderam o rasto às suas árvores e que, muitas vezes, nem sabiam que tinham. Porque quem está na floresta, sabe a importância de cuidar dela em cada ciclo.