25 de abril - Chovia Muito e Chegou o Trator Novo

uma composição para quinteto de sopros com texto para dois atores a partir de testemunhos das pessoas de Penela

Pela primeira vez em palco, o Art’Ventus Quintet junta-se à Companhia da Chanca para criar um concerto teatral. A compositora Camila Menino apresenta uma obra original para quinteto de sopros, que se articula em palco com os testemunhos de habitantes de Penela, interpretados por dois atores. Uma evocação das memórias de quem viveu a Revolução de Abril no coração do interior português.

 

As grandes experiências transformadoras e os acontecimentos que vivemos em comum, enquanto país, cidade e aldeia, ficam como marcos importantes e criadores da identidade social e pessoal; são a nossa memória coletiva, para que alguém possa dizer: eu, tal como tu, também sou isto. Os acontecimentos do dia 25 de abril de 1974, a Revolução dos Cravos, são um desses claros exemplos, tal como o são o Portugal do Estado Novo, ou os anos de transição para a democracia.

Existem imagens, histórias e personagens que fixam, transportam e se tornaram símbolo dessa memória coletiva. Perduraram graças às câmaras de televisão, aos repórteres fotográficos, aos comunicados à população. Aconteceram no Largo do Carmo, no Terreiro do Paço, nos centros de poder político. Mas existem outras geografias, longe dos centros urbanos, onde estes acontecimentos apesar do mesmo significado, ganham outros sentidos. São outras realidades de uma mesma História e que correm o risco de ficar esquecidas.

Numa co-criação entre o Art’Ventus Quintet e a Companhia da Chanca, leva-se à cena o ponto de vista de um Portugal interior: «Eu lembro-me muito bem do 25 de abril, chovia muito e chegou o trator novo». São estas memórias claras como uma fotografia que alimentam este concerto-espetáculo, que respiram na música original da compositora Camila Menino e são expressas no texto, uma adaptação de Paulo Mendes sobre os testemunhos dos habitantes de Penela.

A obra musical divide-se em 5 andamentos (Os 10 últimos minutos do fascismo..., Revolução, Libertação, Democracia e Epílogo) e reflete o jovem sentir da compositora sobre este pedaço da nossa História. Os andamentos são intercalados pelas histórias e relatos de quem viveu aqueles anos transformadores na ruralidade da beira interior, na imigração europeia, em Lisboa ou na Moçambique urbana, ou ainda na experiência militar em Angola. Em todas elas se fala de Portugal, e do que é isto de ser português. 

Abril em Penela
ACTIVIDADES COMPLEMENTARES

Ciclo de Conversas: Antes e depois do 25 de abril


A Cultura e a Música
com TOZÉ BRITO
mediação de Nuno Vidal

Com a participação do Choral Polyphónico João Rodrigues de Deus

1 de novembro / Sociedade Filarmónica Penelense / 17h00 


O Associativismo
com CATARINA ROMÃO GONÇALVES
mediação de Mário Duarte

Com a participação do Coro Carlota Taylor

15 de novembro / Casa Família Oliveira Guimarães / 17h00 

 

Oficinas de Movimento e Música: O Som e o Silêncio
 

Decorreram entre fevereiro e junho de 2025, três oficinas orientadas pelos atores da Companhia da Chanca e pelos músicos do Art'Ventus Quintet para os alunos e alunas dos 5º e 6º anos do Agrupamento de Escolas Infante D. Pedro de Penela. Os participantes foram convidados a fazer parte do processo criativo do espetáculo a partir da exploração de sons e movimentos despertados pelas emoções ligadas a cada um dos temas dos cinco andamentos da obra musical.

 

Abril em Penela
ALGUNS TESTEMUNHOS

 

"Sr. carteiro, por favor entregue esta carta a qualquer menina que encontre ou que conheça no bairro da pontinha, em Lisboa, metrópole. (...) Na semana passada morreram 2 camaradas meus e outros ficaram brutalmente feridos. Eu também seguia na viatura e fiquei ladeado pelos dois mortos e depois perdi os sentidos; sonho diariamente com os cadáveres e acordo aos gritos."

 

"Mas, havia aqui um... e esse era mesmo contra o Salazar, o Dr Luís Oliveira Guimarães; esse não tinha medo, nem se calava, o Dr Luís andava sempre por aqui por acolá a trocar-lhes as voltas e nunca foi preso. Por que sendo um homem culto, instruído e de leis também eles lhe tinham medo..."

 

"E depois o encarregado sentiu-se na obrigação e telefonou ao patrão. E o patrão disse-lhe que tínhamos de continuar a trabalhar, que aquilo era para os outros, era para os grandes, não era para os pequenos. Que não era nada com a gente."

 

"Havia uma liberdade de costumes em tudo diferente daqui. Em Lourenço Marques, íamos jantar fora à churrasqueira e depois íamos ao cinema; fazíamos piqueniques e churrascos no campo; convidávamos e convivíamos com os amigos; havia uma união transparente entre as pessoas."

 

"Todos os dias, uma professora, saía do Espinhal, e subia a serra, para chegar lá acima, à escola da Silveira Grande, e dar aula a estas duas alunas.(...) Nós éramos crianças com vontade de aprender e com capacidades que a nossa professora soube entender e alimentar: inteligentes, sensíveis, e interessadas pelo mundo e pela vida. A solidariedade, a educação, e o sonho da democracia ajudaram-nos a sermos hoje, pessoas que não se perderam pelo caminho."